De ano em ano, diferentes jogadores vêm se revezando entre os três primeiros na eleição de melhores do ano da FIFA. Desde que o prêmio foi criado, em 1991, com exceção de jogadores como Ronaldo, Ronaldinho e Zidane, seguramente entre os melhores da história, ninguém figurou entre os três mais de duas vezes, e diversos jogadores se revezaram no panteão dos melhores do ano, de acordo com o desempenho na temporada, provando que, no equilibrado futebol globalizado, onde "não tem mais bobo", como diriam os repetidores de clichês, ninguém fica no topo por muito tempo. Para ser mais preciso, trinta e dois jogadores figuraram na lista nas dezessete edições do prêmio, como se pode verificar no seguinte link:
Todavia, o curioso é que, apesar dessa alternância, dois dos protagonistas do futebol mundial durante a década de 2000 nunca figuraram na lista da Fifa. Pior que isso, nunca sequer foram especulados, apesar do brilhante futebol que praticam e das muitas conquistas obtidas na condição de protagonistas dos seus times. Esses jogadores são, nada mais, nada menos, do que os fantásticos capitães Steven Gerrard e Francesco Totti.
Esses jogadores possuem muitos pontos em comum, além do fato de nunca terem figurado entre os três primeiros do prêmio da Fifa. Ambos são capitães e verdadeiras instituições nos seus respectivos times, os tradicionais Liverpool e Roma, de onde provavelmente nunca sairão. Oriundos das categorias de base, conduziram os seus times a posições superiores do que encontraram.
Gerrard começou a jogar em um Liverpool relegado a segundo plano na Inglaterra, um sombra do maior vencedor de títulos do país e do time que dominou a europa nas décadas de 70 e 80. Todavia, sob o seu comando, os reds voltaram a brigar por títulos na Inglaterra, conquistando três Copas da Inglaterra e uma Copa da Liga Inglesa, embora não tenha, ainda, saído da fila na dificílima Premier League, o que parece uma questão de tempo. Além disso, o time recuperou o preestígio continental, voltando a ser uma potência, ao conquistar uma Copa da Uefa(2001) e, mais importante, ao chegar em duas finais de Champions League (e pode chegar esse ano a terceira), conquistando o título de 2005 com uma reação emocionante contra o Milan, da qual Gerrad, único craque de um time limitado, foi protagonista. É inegável que Gerrard reconduziu o Liverpool à posição de grande da europa, pois comandou o time em todas as vitoriosas campanhas recentes, impondo sua liderança técnica, ocupando um papel que todos esperavam que seria de Michel Owen.
O mesmo se pode falar de Totti. O capitão e torcedor romanista possui um comando técnico e emocional como poucas vezes se viu em um time de futebol. Talvez por isso sempre declare para quem quer ouvir que nunca sairá da Roma. Com seus gols e jogadas geniais, colocou a Roma em um patamar de grandeza talvez nunca antes alcançado, chegando a seguidas finais de Copa da Itália, conquistando uma, levando a Roma a duas quartas de finais consecutivas de Champions League, feito inédito, superado apenas pelo time de Falcão, vice-campeão em 83/84 (perdendo a final em casa para o próprio Liverpool) e, mais importante, levando a Roma a figurar seguidamente entre os quatro primeiros da Série A, sendo o craque da conquista do scudetto de 2000/2001, apenas o terceiro do time, superando os três gigantes do futebol italiano, Juve, Inter e Milan.
Porém, a maior similitude entre esses jogadores não é o fato de serem capitães/torcedores dos times em que jogam, tampouco o fato de levarem, enquanto protagonistas, suas agremiações a um patamar superior, e sim o fato que causa a surpresa na ausência de indicação de ambos ao prêmio da Fifa: a impressionante regularidade.
É espantoso como ambos estão sempre em boa fase! Pouco caem de produção e são os craques dos seus times durante praticamente toda a carreira. É visível como os seus times ficam fragilizados com as suas ausências, vide os recentes confrontos da Roma com o Manchester United, ou as oitavas de final da Champions League de 2005/2006, na qual Gerrard foi poupado de um jogo e o Liverpool, então campeão, foi eliminado pelo Benfica.
Talvez essa espantosa regularidade seja até o motivo para o "esquecimento" de ambos. Como o prêmio da Fifa é decidido através da votação de técnicos, e não de jornalistas, como o da France Football, no qual os dois ao menos já foram cogitados, esses jogadores, que estão sempre demonstrando o mesmo futebol regular e eficiente, acabam sendo ofuscados por intensos brilhos momentâneos de outros gênios da bola, menos regulares.
Outra possível razão é a fidelidade de ambos aos seus times, de forma a ficarem muito vinculados às suas torcidas, não atraindo a simpatia das demais. Até mesmo o desempenho irregular de ambos nas suas seleções nacionais podem demonstrar esse vínculo forte as agremiações, pois talvez apenas neles se sintam completamente a vontade para jogar futebol.
Além disso, os nomes de ambos raramente são envolvidos em suposições de negociações milionárias, pela falta de vontade que possuem de se transferir. E isso diminue um pouco o apelo midiático de ambos(o que não quer dizer que não tenham), pois são jogadores a moda antiga, que ficam vinculados a apenas um clube por toda a carreira e se preocupam mais em ganhar títulos para os seus clubes de coração do que em obter transferências milionárias e protagonizar campanhas publicitárias.
São muitas as possíveis razões para o "esquecimento", mas nenhuma convence plenamente. Até mesmo este blog esqueceu de relacioná-los entre os melhores do ano, ofuscados mais uma vez por jogadores que estão jogando mais nessa temporada do que em outras, enquanto que Francesco e Steven estão jogando o futebol de sempre, regular, eficiente e brilhante, mas sem brilhar menos ou mais. Só espero que não se cometa uma injustiça histórica com esses jogadores, que não são os melhores de sua geração, mas seguramente estão entre os mais regulares, merecendo premiações até mesmo pelo fantástico conjunto da obra.
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