quarta-feira, 19 de março de 2008

Sobre futebol e cinema.

Pode parecer clichê de histórias futebolísticas, mas realmente o que me inspirou a escrever sobre futebol foi uma tarde de domingo com meu pai. Por acaso não fomos à Fonte Nova naquele domingo, provavelmente o Bahia estava jogando fora de casa, e estava passando um documentário sobre futebol na televisão. O documentário trazia uma discussão, apresentava um debate sobre se o futebol é uma forma de arte ou não.
Não vou me alongar sobre o que diziam os entrevistados do programa, cada qual tem o seu ponto de vista e o defendeu à sua maneira. Mas, conversando com meu pai, criei minha própria analogia sobre o futebol, comparando-o com o cinema.
Na minha cabeça, cada partida de futebol é como um filme, com começo, meio e fim, porém, existe um diferencial importantíssimo a favor do futebol: a capacidade de surpreender do esporte bretão é muito maior do que a dos roteiros produzidos. Por mais que um time seja infinitamente melhor que o outro, jogue dentro de casa, esteja em melhor forma, o resultado de uma partida de futebol é a coisa mais imprevisível do cotidiano de um ser humano. E talvez por existirem tantos indícios do que pode ocorrer em uma partida, por se acompanhar tanto e tão de perto o dia-a-dia dos clubes e dos seus atletas é que os resultados e as sequências de fatos das partidas de futebol nos surpreendam e nos emocionem tanto.
Acho desnecessário fazer comparações mais prolongadas sobre os jogadores serem os atores, os técnicos os diretores e etc. Acho mais importante voltar ao documentário que assisti com meu pai para citar que boa parte dos entrevistados falavam sobre aquele velho conceito de futebol arte, o drible, a jogada de efeito, a falta cobrada no ângulo como características do "futebol arte". Claro que tudo isso faz parte da técnica de um bom jogador, mas assim como no cinema, a grande atuação de um ator não está acima da importância do filme, a partida, os noventa minutos de bola rolando, são muito mais importantes que qualquer lance que um chamado gênio da bola pode realizar. Nenhuma finta de corpo de Garrincha fez tanta gente chorar como Brasil x Itália na copa de 82. Na verdade, nem sempre uma grande partida tem grandes lances ou grandes jogadores, mas os grandes lances dependem das grandes partidas para se tornarem eternos, e os grandes jogadores dependem, mas dependem muito, das grandes partidas para serem elevados ao nível de gênios.
E é quando falamos de futebol, cinema e das emoções que ambos despertam na gente, que eu, humildemente, coloco meu ponto de vista sobre arte. Não seriam as diversas formas de arte maneiras despertar sentimentos nas pessoas? Claro que é uma visão simplista de um objeto amplamente discutido e muito subjetivo, mas a verdade é que a tensão de uma partida de futebol nos seus minutos finais ganhando de 1x0 e com um a menos ou o gol nos acréscimos despertam nos seus espectadores sentimentos com a força que raros ganhadores de Oscar conseguiram.